O início do projeto Óbidos Vila Literária, em 2011, teve a finalidade de abrir caminho a uma progressiva etapa de regeneração de um centro histórico, cuja força estava mais do que provada após uma década de revitalização económica a partir de uma coleção de eventos, dos mais populares como o mercado medieval, aos mais eruditos como a ópera. Essa experimentação teve uma correspondência tão forte que a Vila se afirmou como um gigante mediático com uma capacidade de mobilizar estonteante.
Há alguns anos atrás, com a necessidade de reabilitar alguns edifícios e espaços públicos, procuraram-se oportunidades de financiamento, nomeadamente para a requalificação de uma antiga igreja situada dentro das muralhas. O contexto nacional era de um país sem programas de financiamento para a área da conservação e do património sendo portanto necessário encontrar soluções que visassem uma dimensão cultural e económica do espaço e que simultaneamente respeitassem a história do edifício. A estratégia passou por criar um polo cultural e literário dentro de Óbidos. Quando, em 2012, lançámos a maior livraria portuguesa dentro de uma igreja, chamámos a atenção para as novas configurações entre espaços e atividades e entre talentos locais e de fora. Começámos com a ideia de construir uma rede física de livrarias, o que fez disparar de zero para 11 novas livrarias em menos de cinco anos, incluindo um hotel literário.
Este projeto trouxe um posicionamento muito interessante para Óbidos, não só pela sua relevância cultural mas também pela diferenciação turística.
A 11 de dezembro de 2015 a UNESCO considerou Óbidos como Cidade Literária, como parte do programa Rede de Cidades Criativas. Criada em 2004, esta rede tem como objetivo “promover a cooperação com e entre cidades que identificaram a criatividade como um fator estratégico para um desenvolvimento urbano”. A candidatura de Óbidos à rede de cidades literárias da UNESCO assentou, entre outros fatores, no projeto Vila Literária que estava a ser desenvolvido na vila desde 2011, numa parceria entre a autarquia e José Pinho, da LerDevagar. Óbidos entrou na lista da UNESCO ao lado de outras cidades literárias como Barcelona (Espanha), Edimburgo (Escócia), Melbourne (Austrália), Iowa City (Estados Unidos da América), Dublin (Irlanda) Reiquejavique (Islândia), Norwich (Inglaterra), Cracóvia (Polónia), Heidelberg (Alemanha), Dunedin (Nova Zelândia), Granada (Espanha) e Praga (República Checa).
Óbidos Vila Literária é um projeto único no contexto das manifestações artísticas e culturais que se realizam em Portugal. A qualidade deste projeto literário e artístico tem o reconhecimento da comunidade local, regional, nacional e internacional, tanto do público, como dos seus pares a nível local e mundial: Rede UNESCO das Cidades Criativas, IOB-International Organisation of Booktowns, Festivais Literários Internacionais.
A Vila Literária de Óbidos foi construída no pressuposto de que haveria uma Rede de Livrarias dotadas de espaços específicos para organização de exposições de artes, de concertos, de conferências, de performances. Para além dos espaços do livro, a Vila Literária dispõe de um conjunto de espaços municipais: museus, galerias e residências artísticas e literárias que lhe permitem completar a oferta e satisfazer as solicitações de escritores, autores, artistas que procuram Óbidos como local de desenvolvimento de projetos ou como local da sua apresentação. As atividades de Óbidos Vila Literária são contínuas ao longo do ano, com manifestações de maior relevo nos festivais e encontros literários e artísticos, nomeadamente no FOLIO – Festival Literário Internacional (nas suas diversas e artisticamente abrangentes componentes: Autores, Ilustra, Educa, Folia, e Paralelo) e no Latitudes – Literatura e Viagens.
Óbidos Vila Literária desempenha um papel fundamental na coesão social do território permitindo e envolvendo os residentes do município e da região oeste, estendendo-se inclusivamente a outros municípios e regiões vizinhas. O plano de atividades tem a preocupação da inclusão social, da integração e colaboração das escolas, politécnicos e universidades, alunos, professores e investigadores. O plano de atividades, partindo do livro e da leitura, tem uma preocupação holística e integradora abrangendo as diferentes áreas do saber, do conhecimento e das artes.
Óbidos é, no momento e no seu todo, uma Cidade Literária, na medida em que abrange a literatura em tudo o que faz, desde a reconstrução e reutilização de edifícios antigos até a criação de empregos, a pensar em produtos turísticos alternativos.